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Efeito Primata

Só fui notar os efeitos catastróficos e perigosos do álcool no dia em que resolvi sair totalmente sóbria. Foi difícil me manter assim quando vi aquela quantidade de bebida diferente e sedutora ao meu redor, as mesas repletas de baldes recheados com cervejas ou energéticos para acompanhar a vodka, uma garrafa nova, lacrada, tudo ali ao meu alcance, e melhor de graça caso eu desejasse degustar do néctar dos loucos. É somente quando não posso beber que há bebida “grátis” próximo a mim.

Ok! Eu não tinha decidido sair sóbria, eu não podia beber, simples assim.

Foi na quarta-feira da semana santa que decidi retornar a um lugar do qual não ia há muito tempo, o pub mais badalado da cidade, o Informal, e depois de quarta percebi que está mais badalado do que nunca, pois ali não se tem lugar nem para os pensamentos, quanto mais para pessoas. Não sei se foi pelo tempo que deixei de ir, ou se realmente a cidade cresceu e renovou sua população, pois para mim era a famosa “festa estranha com gente esquisita”, nenhum rosto familiar, a não ser de duas amigas, mas logo uma se foi e a outra que ali ainda me restava como companhia desapareceu.

Depois de muitas cotoveladas na costela e sem paciência alguma, consegui um banquinho bem enfrente ao palco onde podia ver tudo, bem, quase tudo, era muita gente, um mar de gente desconhecida. Na mesa logo a minha frente, quatro amigos se divertiam, inclusive o rei das cotoveladas. Eram quatro caras diferentes, o bêbado chato, o playboy “gogo-boy”, o bonitão fresco e o famoso simpático. Perdi as contas de quantas latas de energético haviam por ali, era uma mistura de vodka com cerveja, e que mistura bombástica.

Naquela noite o Informal, parecia “Informan” como dizia um amigo meu em noite que aquele metro quadrado tinha mais cuecas que calcinhas. Se de noite ‘todo gato é pardo’ ali os gatos além de pardos estavam loucos, é incrível como a bebida é convidativa, mas também traiçoeira.

Dois dos quatro companheiros, o bêbado chato e o simpático se transformaram em laçadores, bastava passar uma mulher, fosse ela do jeito que fosse que eles a laçavam. A proposta era de um drink. Muitas, mas muitas mesmo passaram por ali, eu que já havia feito amizade com os outros dois companheiros, que pelo visto não estavam tão embriagados assim, não tivemos outra alternativa se não observar e rir das coisas que víamos.

Por um momento, dispersei meu pensamento e observei cada um ao meu redor, todos sem duvida estavam bêbados, ao som do pop rock, alguns até pediam “rebolation”, que para minha alegria, a banda fingiu não ouvir tais pedidos. Quando se está sóbria, um bar se torna uma selva, você ri das cantadas mais cafonas que talvez se estivesse bêbada relevaria, o que é um perigo.

Sem duvida a bebida liberta os instintos primitivos das pessoas. Elas se sentem livres para serem elas mesmas e depois ainda podem botar a culpa no álcool. Podem subir no balcão pra dançar, flertar todas as garotas, dançar igual a um gogo-boy ou dar barraco porque viu seu ‘ficante’ com outra.

Além do mais o álcool é um agente embelezador. Quando vi os dois companheiros laçadores entrelaçados em duas mulheres, que com o perdão da palavra, eram mais feias do que briga de foice, só me restou rir, no resto da noite que permaneci sentada ali, ambos foram motivo de chacota para os outros dois que estavam conversando comigo. Eu não sou a rainha da beleza, nem devo chegar próximo a isso, mas tenho bom senso e sou ingênua em pensar que todas as outras mulheres também deveriam ter (aqui fica uma dica para as moças, se você tem os cabelos enrolados e muito volumosos, não faça ‘chapinha’ pois poderá ficar parecendo um capacete, opte pelo natural ou faça relaxamento pra diminuir o volume e se você está acima do peso, não use um body ‘engana mamãe’ ainda mais de ele for estampado com listras horizontais). Acho que assim nasceu a expressão “Este é guerreiro igual São Jorge”.

Depois de tantas garrafinhas de água e rir, eu precisava ir ao banheiro, o que ali é uma batalha, pois o mesmo fica no final do bar, é uma guerra de corpos que querem ocupar o mesmo espaço, depois de alguns pisões no meu sapato novinho, eu cheguei lá. Se você acha que só banheiro de homens é decadente, é porque nunca entrou em um banheiro de mulheres, mulher parece animal selvagem e sem modos, parece que nós que temos pinto e não os homens, pois há sempre mijo em todo lugar no banheiro, menos no vaso, sem duvida são péssimas de mira, pois há uma cesta de lixo bem ao lado do vaso, mas teimam em jogar o papel no chão, o pior é quando estão nos ‘dias vermelhos’ e temos de ver o sangue alheio espalhado, e se você acha que só na porta do banheiro masculino você lê putaria, está enganado, no banheiro feminino você tem uma novela mexicana de quinta, onde fulana acha beltrano lindo mas a ciclana que pega, e ainda há anúncios, números de telefone, e quem daria pra quem, é uma coisa de louco! Ainda tem algo mais tenebroso que é quando há marcas de ‘beijo’ na parece, para tirar o excesso do batom, eca! Vai saber quem colocou a mão com o que na parede? Naquele banheiro não reparei nisso, pois era muita mulher pra um lugar tão pequeno.

Voltei a mesa, mas decidi que já era hora de partir, minha noite não daria em nada que não fosse cãibra no maxilar de tanto rir, me despedi com ‘novo amigo’ gogo-boy, já não havia mais ninguém conhecido, pois descobri que o barraco da noite foi realizado pela minha amiga desaparecida.

No esbarra-esbarra tentando sair, percebi que você também não pode ser educada com um bêbado, ao emprestar meu ‘fogo’ pra um deles, logo tive de me desviar de vários tentáculos e elogios cafonas no melhor estilo Wando.

Isso não quer dizer que vou parar de beber, confirmo que o álcool é um libertador de almas aflitas, quem sabe em outra noite qualquer eu seja uma das malucas dançantes em cima do balcão (isso quando eu tiver coragem e álcool o suficiente no cérebro pra fazê-lo), mas com toda certeza terei mais cautela.

Poliana Zanini